im-




Em im-, a concepção e a utilização dos materiais equacionam a possibilidade de permanecer em potência, num estado “entre”. A abstenção do fazer é tomada como condição que admite todos os possíveis, sendo que as figuras criadas pelos dois autores e intérpretes não evitam assumir, por vezes, outros papéis.

Como pode alguém permanecer ocupado não fazendo nada? Como pode um indivíduo desclassificar a sua presença? Como pode abdicar da sua condição privilegiada, de ser sublimado, em favor de algo sem qualidades e cujo destino é ser esmagado?

Neste espectáculo a palavra chave é talvez “desclassificar”, assim, assiste-se a uma tentativa de não ser ou deixar de ser alguma coisa. im- apresenta um conjunto de situações em que as acções vêem a sua importância reduzida, são o que são, e na sua ausência de objectivos aquilo que acontece esmaga-se a si mesmo. Os diversos materiais surgem nivelados, em exercícios que se perdem, ou que são abandonados antes de se concretizarem. Tudo permanece informe, na aparência e no sentido. A tensão entre o plano horizontal e o plano vertical é permanente.

Ao longo do espectáculo são criadas expectativas que logo se dissipam, sem nunca antes se cumprirem. Mesmo a introdução de códigos como o texto, não visa fornecer uma explicação para aquilo a que se assiste, mas sim actuar como mais um elemento disruptor. Assim, a tentação de alcançar uma chave para a compreensão de im-, é aqui contrariada.

O abandono sucessivo de materiais revela um estado de desilusão e vazio constantes. As personagens, ora diluídas no espaço, repousando inertes, ora separadas da cena pela estranheza de acções que parecem sempre desajustadas, apresentam-se desenraizadas, deslocadas, sem esforço, sem motivação. As figuras, cuja identidade é pouco clara, mantêm-se na potência do não fazer, não concretizar.


Ficha Artística:

Concepção e interpretação: Vera Mota e Francisco Camacho
Cenografia: Vera Mota e Francisco Camacho
Figurinos: Vera Mota
Desenho de luz e direcção técnica: Nuno Patinho
Assistência de ensaios: Patrícia Milheiro
Produção: EIRA


(EN)
A collaboration between the choreographer Francisco Camacho and the visual artist Vera Mota.
Francisco Camacho, based in Lisbon, has been working as choreographer and performer, collaborating with different artists like Meg Stuart and Alain Platel, along with several Portuguese artists.
The young artist Vera Mota is based in Porto. Her work covers different media, from video and photography to drawing and installation. She often presents performance work in galleries, art fairs and performance venues or festivals.
Considering their differences in generation and in the social contexts they live in, on this piece they decided to approach matters relating to cultural diversity as well as the different levels in culture (popular vs. elitist, high vs. low).
im- addresses a number of issues relating to our time, be it the idea of the loss of reality as put forward by Jean Baudrillard or testing the possibility of a return to the Real as defended by Hal Foster.
Aware of the impact of communication media in contemporary society and the proximity that Internet allows globally, the artists wanted to reserve space for small gestures and traces that distinguish people and smaller environments.
João Manuel de Oliveira





























fotografia de Luís Espinheira©


+

Meta im- ou in im-? João Manuel de Oliveira; 10/08/2009

Apuntamentos sobre "im-" Pablo Caruana Húder; 9/08/2009

"im-" ou O corpo coisificado Claudia Galhós; 08/2009

entrevista: Vera Mota e Francisco Camacho I por Cláudia Galhós; Abril 2009

entrevista: Vera Mota e Francisco Camacho II por Cláudia Galhós; Agosto 2009